Complexo de Cinderela: a necessidade de encontrar um príncipe encantado.
O Complexo ou síndrome de Cinderela é caracterizado/a pela necessidade psicológica de encontrar um príncipe encantado ou uma princesa de conto de fadas que nos permita sair de nossa vida atormentada e nos fazer felizes graças ao seu amor. Para atingir esse objetivo fantasioso, idealizamos o parceiro possível para atender a essas expectativas, o que dificulta muito a realização do desejo no amor.
Se, inicialmente, esse complexo ou síndrome de Cinderela era descrita/o como correspondendo apenas às mulheres, hoje ele/ela é considerado/a uma estratégia que pode ser aplicada tanto para homens quanto para mulheres.
A sociedade tem um papel no aparecimento desta síndrome?
É certo que a educação dada às meninas favorece o aparecimento desta síndrome. Ensinamos às meninas, desde muito pequenas, que elas são definidas apenas pela realização do amor e que seu príncipe encantado está escondido na curva da estrada. Ao fazê-lo, colocamos as meninas em uma posição de passividade e lhes ensinamos que o amor verdadeiro é a única coisa que vale a pena existir, em detrimento de todo o resto (paixões, hobbies, carreira, outros relacionamentos…). Além disso, ensinamos-lhes, assim, que só um homem poderá permitir que se realizem plena e totalmente, que é ele quem lhes permitirá ser felizes: sua própria identidade é apagada em favor de uma identidade vivida através do prisma masculino. O relacionamento de dependência estabelecido nesse tipo de relacionamento pode rapidamente tornar-se perigoso.
Quais são as consequências desta síndrome?
As consequências psicológicas desta síndrome podem ser bastante graves e podem ser encontradas em diferentes tipos de relacionamentos, dependendo do grau de impacto. As consequências podem ser as seguintes:
Tendência ou incapacidade de se defender na frente dos outros e se exibir.
Aprender sobre vitimização que se generaliza a todas as relações com os pares (amigos, casal, etc.).
Aceitação do abuso de poder que outros podem exercer sobre o indivíduo, semelhante ao que foi vivenciado durante a infância.
Aprender um vínculo afetivo desequilibrado, baseado no exercício do poder, na interação com os outros e no estabelecimento de vínculos afetivos do tipo dominação-submissão.
Na prática, essa síndrome pode ter fortes consequências na forma como nos relacionamos com os outros, sejam eles amigos ou parceiros românticos. Os relacionamentos são desequilibrados, o compromisso romântico é mais complexo e há maior instabilidade nos relacionamentos.
Como tratar a síndrome da Cinderela?
A solução para essa síndrome, como para tantos outros conflitos psicológicos nascidos na infância e adolescência, passa pelo reconhecimento e aceitação do próprio conflito.
Com a ajuda do psicólogo, o paciente aprenderá a se livrar do desconforto causado pela síndrome, aprendendo comportamentos alternativos mais adaptados e equilibrados (graças às terapias cognitivo-comportamentais em particular). Não há solução mágica, apenas um confronto consciente e maduro dos conflitos pode ajudá-lo a superá-los.
Um acompanhamento psicológico é de grande ajuda para identificar esses conflitos e apoiar o paciente no aprendizado de novas formas de interação com os outros.
O complexo ou síndrome de Cinderela é apenas um conceito que Colettte Dowling explica no seu livro publicado em 1981. Ele não é um diagnóstico clínico, mas serve de um bom instrumento teórico para orientar o paciente.
Referências:
Dowling, Colette. Complexo de Cinderela, Melhoramentos, 2012.
Fotos: Pexels