Cobertores Pesados: Potencializando o Bem-Estar Psicológico
Já ouviu falar em cobertores de até 12 quilos para dormir? Atualmente, os cobertores pesados estão em alta, com fabricantes afirmando que podem ser benéficos para questões relacionadas ao sono, ansiedade, depressão, hiperatividade e autismo. No entanto, essas promessas precisam ser verificadas.
De acordo com o psicólogo e cientista alemão Hans-Günter Weess, dormir com um edredom grosso pode promover o sono, independentemente da temperatura ambiente. Ele argumenta que é importante manter nosso corpo coberto para manter a temperatura central constante durante a noite. Além disso, cobrir o corpo também tem um efeito psicológico positivo, pois nos faz sentir confortáveis, protegidos e mais relaxados.
Dentro dessa perspectiva, os fabricantes propõem cobertores terapêuticos (indisponível até o momento no Brasil) que são costurados com pequenos objetos de vidro ou metais entre as camadas, variando o peso até 12 quilos, de modo que corresponda a cerca de 10% do peso da pessoa. O peso exercido sobre o corpo proporcionaria uma sensação de relaxamento, tranquilidade e segurança, semelhante à sensação de proteção que uma criança sente nos braços de sua mãe.
A prática de envolver bebês prematuros e até adultos, conhecida no Japão como ‘otona maki’ ou a ‘arte de ser embrulhado’, é uma tradição milenar. Atualmente, esses objetos são recomendados por seus fabricantes e outros especialistas para uma variedade de situações, incluindo distúrbios do sono, estresse, ansiedade, depressão e até transtorno de déficit de atenção com ou sem hiperatividade (TDAH). Eles também podem ser úteis para pessoas com transtorno do espectro autista, síndrome das pernas inquietas, demência ou doença de Parkinson.
A Terapia Ocupacional nórdica vem testando essa prática, recomendando que as pessoas passem de 5 a 15 minutos embaixo de uma coberta que pese até 10% do seu peso. Particularmente na Suécia, os cobertores pesados são amplamente utilizados. De acordo com um estudo, cerca de 2.700 desses cobertores são prescritos anualmente em Estocolmo para adultos com transtornos psiquiátricos, bem como em lares de idosos e casas de repouso
Estudos recentes têm demonstrado a eficácia dos cobertores pesados no tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA), estresse e insônia. No entanto, é importante observar que houve relatos isolados de menos de 5% da amostra experimentando crises de claustrofobia (medo de lugares fechados) como efeito colateral.
“Em um estudo realizado na Suécia com 120 participantes que sofriam de transtorno do sono, ansiedade, depressão, transtorno bipolar e TDA/H, os resultados revelaram que 60% dos pacientes experimentaram uma notável melhoria na qualidade do sono ao utilizar cobertores pesados. Isso contrasta com cerca de 5% daqueles que usaram cobertores leves e não notaram uma melhora significativa. Além disso, as pessoas que se beneficiaram dos cobertores pesados relataram se sentir mais ativas durante o dia, menos cansadas, menos deprimidas e menos ansiosa.
Embora haja indícios promissores, ainda são necessárias mais pesquisas para que a prática seja oficialmente recomendada por profissionais de saúde. Uma possível razão é que não é do interesse direto da indústria farmacêutica promover essa abordagem. Portanto, a decisão de experimentar os cobertores pesados deve ser deixada ao critério de cada indivíduo, a fim de fazer sua própria avaliação pessoal.
Referências:
- Becklund et al.Using weighted blankets in an inpatient mental health hospital to decrease anxiety,Journal of Integrative, Medicine, 2021.
- Ekholm et al.,A randomized controlled study of weighted chain blankets for insomnia in psychiatric disorders,Journal of Clinical Sleep Medicine, 2020.
- Eron et al.Weighted blanket use:A systematic review,American Journal of Occupational Therapy, 2020.
- Langosch. Couvertures lestées :quels bénéfices ? Cerveau&Psycho. N° 143 – Mai 2022, p.88-91
Foto : Pexels
Arthur Prado-Netto , PhD em Psicologia pela Université de Paris, Sorbonne, Psicólogo CRP 03/7485 Terapeuta Cognitivo Comportamental, professor da Universidade do Estado da Bahia, Guanambi e Bom Jesus da Lapa.