Cognição Social
“Na ausência do outro, o homem não se constrói homem”.
Lev Vygotsky(1896-1934) fundador da psicologia sócio histórica e os outros teóricos cognitivistas da segunda metade do século XX vão fundamentar a necessidade íntima do sujeito de se inscrever e pertencer a um círculo social ao longo do desenvolvimento. Ajustar nosso comportamento nos relacionamentos resultaria em particular, de um conjunto de processos pelos quais damos significado aos outros, às suas intenções, suas ações, suas emoções. Eles são agrupados sob o termo “cognição social” ou “processos sociocognitivos” e são identificados como um domínio cognitivo no DSM-5. Eles Incluem:
- Mecanismos para reconhecer pistas emocionais (expressões faciais, prosódia, postura corporal, etc.);
- A empatia, que possibilita compartilhar a experiência afetiva do outro;
- Teoria da mente, necessária para inferir os estados mentais e pensamentos dos outros;
- Cognição Moral que reúnem propriedades sociais e padrões morais, bem como a capacidade de tomar decisões com bom senso;
- As habilidades pragmáticas (ou seja, a capacidade de entender aspectos não literais de uma mensagem).
Todos esses processos nos permitem, ao longo da vida entrar em comunicação e manter nossas relações com os outros.
Observa-se déficit na cognição social mais evidente no transtorno do espectro autista e nos transtornos do neurodesenvolvimento com impacto significativo na vida do paciente e de seus arredores. Dificuldades de cognição social são também encontradas em crianças com transtorno de déficit de atenção com ou sem hiperatividade (particularmente no que diz respeito às habilidades pragmáticas), bem como adolescentes e adultos com transtornos psiquiátricos, como esquizofrenia. Da mesma forma, o DSM-5 incorpora dentro dos transtornos do neurodesenvolvimento do comunicação um distúrbio pragmático específico que pode ocorrer isoladamente.
No nível neurológico, os distúrbios da cognição social são mais documentados entre sequelas de traumatismo craniano, especialmente moderado ou grave, no contexto da epilepsia do lobo frontal e temporal – tanto em crianças quanto em adultos; no acidente vascular cerebral e em pacientes com esclerose múltipla.
Por fim, no contexto das doenças neurogenerativas, essas desordens têm sido estudadas principalmente em pacientes com degeneração frontotemporal para os quais, avaliação da cognição sociais podem contribuir para a orientação diagnóstica. Embora menos graves, as dificuldades são, no entanto, relatados em outras doenças muito mais comuns (por exemplo, doença de Alzheimer, doença de Parkinson idiopática, doença de corpos de Lewy).
Em conclusão, os déficits na cognição social podem ser frequentemente encontrados em qualquer que seja o contexto da intervenção clínica. Identificá-los é um verdadeiro desafio para o clínico (neuropsicólogo, psicólogo, médico).
Referências:
McDonald, S., Flanagan, S., Rollins, J., Kinch, J. (2003). TASIT: A new clinical tool for assessing social perception after traumatic brain injury. The Journal of Head Trauma rehabilitation, 18(3), 219-38.
Fotos: Pexels
Arthur Prado-Netto , PhD em Psicologia pela Université de Paris, Sorbonne, Psicólogo CRP 03/7485, Terapeuta Cognitivo Comportamental, professor da Universidade do Estado da Bahia, Guanambi e Bom Jesus da Lapa.