Bruxismo na Psicoterapia
Para os psicanalistas freudianos, o bruxismo seria a expressão da ansiedade, das dificuldades encontradas na vida ou mesmo das frustrações sentidas: “nos encolhemos quando não podemos morder o que queremos morder”, Bonaparte (1952). Seria até mesmo para Slavicek (1996) um mecanismo essencial para a liberação do estresse que o sistema mastigatório aciona em situações de ansiedade psíquica. Não é a ansiedade, mas a raiva reprimida que é expressa no bruxismo.
Psicológico ou Biológico?
Quais mecanismos biológicos fundamentais levam ao bruxismo? A teoria “Thegosis” de Every (1975) representa um ponto de vista baseado em argumentos filogenéticos. De acordo com essa teoria, o bruxismo aparentemente sem finalidade funcional no homem seria um hábito herdado, não apagado durante a civilização e que originalmente teria um significado biológico e não patológico. Essa teoria poderia explicar o fato da atividade mastigatória ser evidenciada durante o sono em grande parte da população. Também permitiria fazer a ligação entre bruxismo e estresse, bem como com outros fatores psicogênicos. Sabe-se que psicoestimulantes, as anfetaminas (Metilfenidato e derivados) causam ou acentuam o bruxismo (Hartmann, 1994; Lavigne et al., 1995). O bruxismo também pode estar ligado a diferentes tipos de personalidade. Assim, os bruxomaníacos são mais introvertidos, exibindo comportamento diminuído diante da frustração, enquanto os sujeitos de controle direcionam sua hostilidade para os outros ou para objetos (extrovertidos). Além disso, bruxomaníacos têm maior tendência à depressão e instabilidade emocional do que os assintomáticos (Molin e Levi, 1966; Olkinuora, 1972 aeb).
De fato, a importância do ranger aumenta de acordo com o estresse sentido durante o dia e uma correlação positiva entre bruxismo e ansiedade, hostilidade ou mesmo hiperatividade tem sido demonstrada nos alunos, especialmente nas escolas.
As Causas
No bruxismo, o indivíduo muitas vezes tende a apertar os maxilares mesmo durante o dia inconscientemente. E durante o sono, esse mecanismo se intensifica, gerando desgastes dos dentes.
As causas inconscientes mais comuns de bruxismo são:
- Raiva não expressa muitas vezes desde a infância (humilhação ou crítica permanente do pai, da mãe, ou indiferença de um ou de outro, etc.)
- Raiva reprimida.
Dependendo da intensidade emocional sentida durante a infância pelos motivos mencionados, isso se registra profundamente no psicológico e pode se manifestar posteriormente na mandíbula, como se todo o conteúdo emocional que não pudesse ser expresso tivesse ficado bloqueado.
O que finalmente parece lógico, então a verbalização é feita pela articulação da mandíbula. Essas causas geralmente resultam nas seguintes crenças negativas:
- Dificuldade em expressar como você se sente
- Dificuldade em se afirmar
É importante lembrar que não é o estresse ou a ansiedade, mas a raiva reprimida/não expressa que trará esse aperto de mandíbula que se tornará automático assim que essa emoção ressurgir em diferentes situações do cotidiano e às vezes até de forma inconsciente.
Soluções
É importante que o psicoterapeuta ajude o paciente a definir claramente a emoção que reativa. Não significa que todos que experimentam raiva provavelmente desenvolverão bruxismo. Todos desenvolvem o sintoma que estará associado a um sofrimento embutido que não pôde ser expresso ou ouvido na infância.
Se você sofre de bruxismo, pergunte a si mesmo quem você culpou na sua infância?
Feche os olhos, revisite sua infância como um filme e observe o que acontece lá, em quais lembranças/eventos, você sente essa raiva crescente?
Já aprenda a identificar essa reação emocional e em quais situações ela se reativa, depois aprenda a gerenciá-la. Relaxamento, pode ser um apoio interessante.
No entanto, é sempre melhor ir à origem dessa raiva, pois as emoções que se cristalizam se registram no corpo e estão associadas às crenças negativas mencionadas acima.
E como em todos os sintomas, é preciso trabalhar a origem e, portanto, tratar todos os traumas do passado.
Em uma psicoterapia Cognitivo Comportamental, é muito mais fácil explorar eventos da infância que geram distúrbios emocionais associados a crenças negativas que o indivíduo mantém inconscientemente.
Referências:
Réussir la gestion du bruxisme. Knellesen, Laluque et Brocard. QUINTESSENCE,2008
Bruxisme du sommeil: aspects fondamentaux et cliniques. Chapotat, Robin & Jouvet. Journal de parodontologie & d’implantologie orale Vol. 18 N°3/99 – pp. 277 à 289
Fotos : Pexels
Arthur Prado-Netto, Psicológo CRP 03/7485,PhD em Psicologia pela Université de Paris, Sorbonne, Psicoterapeuta Cognitivo Comportamental, professor da Universidade do Estado da Bahia, Guanambi e Bom Jesus da Lapa.