As Mães Tóxicas
Não há dúvidas sobre o amor de uma mãe, mas muitas vezes por trás de uma atitude tóxica está a falta de autoestima, uma insegurança notável e um profundo medo da solidão impedindo seus filhos de serem autossuficientes para que não saiam do ninho.
As mães são um pilar fundamental na formação dos filhos, mesmo antes do nascimento. Com a amamentação, o apego, as práticas parentais e a educação, formam-se as bases cognitivas, emocionais e comportamentais do futuro adulto, que interagem com a personalidade e o caráter da criança. Assim, as primeiras relações filho-criança/mãe são de vital importância para a construção do espírito humano. Nelas estão pressupostos o amor, o afeto, a formação de valores, o desenvolvimento pessoal, o impulso à socialização, a independência e todos os recursos que a criança necessita para se tornar adulta na sociedade.
Existem muitos tipos de mães tóxicas, embora cada uma possa apresentar várias ou todas as características das outras. No entanto, a adoção de algumas das características discutidas a seguir não significa toxicidade em si, mas é necessário avaliar como um todo os efeitos que ela causou no desenvolvimento da personalidade da criança e como isso afeta a vida cotidiana e nas relações com o meio ambiente, consigo mesmo e com os outros.
MÃES SUPERPROTETORAS
As mães superprotetoras não valorizam suficientemente as habilidades de seus filhos tanto no desempenho de uma tarefa, trabalho, estudos ou escritório quanto quando seus filhos se defendem de possíveis perigos ou dificuldades. Essas atitudes são baseadas em um espírito controlador e na própria insegurança da mãe. Algumas frases de mães tóxicas a esse respeito podem ser “deixe-me fazer o que você não pode fazer”, “você não é capaz”, “tenha cuidado, não confio em você”.
Esse tipo de característica das mães tóxicas pode levar a baixa autoestima e falta de autoconfiança na criança desde tenra idade que ela se arrastará até a idade adulta. Também é difícil assumir novos desafios e sair da zona de conforto.
MÃES CONTROLADORAS
Esses tipos de mães tóxicas controladoras mostram a necessidade de controlar suas próprias vidas e as vidas de seus filhos. Eles controlam suas amizades, seus hábitos, a maneira como se vestem, seu desenvolvimento e tudo ao seu redor. Essa personalidade controladora cria segurança na mãe e cresce na crença de que é uma forma de amor e desejo de bem para seus filhos, ultrapassando até mesmo certos limites de intromissão, ciúme e desprezo, inveja quando adultos. Desde de muito cedo, esse controle também envolve superproteção e fraqueza nas crianças, o que lhes causa inseguranças e inferioridade e anula a capacidade de tomar suas próprias decisões de forma autônoma.
Algumas das frases da mãe controladora são geralmente como “eu quero o melhor para você”, “você vai errar se não fizer o que eu digo”, “com quem você vai, onde, quando você está voltando, me ligue imediatamente”.
MÃE MANIPULADORA EMOCIONAL
Mães manipuladoras são mais comuns do que pensamos. Normalmente, são mulheres que estão descontentes com suas vidas, com medo de não serem amadas ou perder seu papel materno, então querem atraí-las através da dependência emocional, chantagem emocional ou coerção. Eles sabem usar emoções e palavras para alcançar seus objetivos, mesmo que o jogo seja a felicidade ou o bem-estar dos outros.
Além disso, uma mãe emocionalmente manipuladora tende a ser muito crítica, mentirosa, subestimar as virtudes dos filhos e maximizar as falhas, sempre enfatizando o que está mal feito e colocando à frente a ausência de elogios e amor. Esse tipo de mãe deixa como marcas na criança, o sentimento de culpa e a necessidade de aprovação dos outros.
Dentro das mães emocionalmente manipuladoras estão as mães vitimizadoras que usam a reclamação para atingir seus filhos enquanto forçam seus filhos a prestar atenção nela. O pessimismo extremo também é outra forma que esses tipos de mães tóxicas desenvolvem.
MÃE NARCISISTA TÓXICA
Uma mãe narcisista tóxica preenche as características do transtorno de personalidade narcisista, que se concentra no egocentrismo e na alta autoestima, juntamente com alguma empatia por seus filhos. Além disso, ela sempre procura ser o centro das atenções, se preocupa com as aparências e precisa se sentir admirada como uma mãe modelo que faz tudo com perfeição.
As mães narcisistas nunca estão satisfeitas e, para muitos mais do que seus filhos lutadores, terão dificuldade em encontrar palavras de admiração ou conforto para suas mães, que sempre minimizarão ou ridicularizarão as preocupações de seus filhos sobre as suas próprias. Esses tipos de mães tóxicas veem seus filhos como sua extensão e descartam todas as suas ambições, projeções e aspirações não realizadas, independentemente de suas emoções ou do que desejam em suas vidas. Por outro lado, também podem se tornar extremamente destrutivos, tanto com os filhos quanto com as pessoas ao seu redor, seja como casal ou com amigos.
INTERVENÇÃO PSICOTERAPÊUTICA
Se você tem uma família tóxica ou mãe tóxica, o próximo passo é buscar ajuda profissional de um psicólogo especializado que ajudem a reposicionar papéis e relacionamentos dentro da família, principalmente entre mãe e filho ou filha. Uma das formas mais eficazes é a terapia familiar na qual trabalhamos com os membros para resolver conflitos de forma colaborativa.
A terapia familiar vê a família como um todo, um sistema no qual todos interagem com os outros. Para isso, os psicoterapeuta estimula a comunicação e a empatia para entender o desconforto que certas atitudes geram em outras e para que problemas individuais e interpessoais entre mãe e filhos possam ser resolvidos.
No processo terapêutico, e dependendo das necessidades e profundidade de cada caso, é possível que ocorram sessões conjuntas e individuais tanto para analisar cada membro separadamente quanto para compartilhar diferentes perspectivas e emoções compartilhadas. Caso a mãe tóxica, por exemplo, não tenha concordado em fazer terapia, é sempre prático realizá-la individualmente para aprender a tratá-la, mudar os aspectos que não gostamos em nossas próprias atitudes e poder para lidar com o relacionamento de uma forma mais saudável.
De qualquer forma, ter uma mãe tóxica é um problema, então a melhor maneira de viver uma vida plena e um relacionamento feliz é tentar resolvê-lo da melhor maneira possível, aceitando-o e enfrentando-o com todas as dificuldades.
REFERÊNCIAS:
Terri Apter, Mères toxiques: Les comprendre pour se libérer de leur emprise, Ixelles Editions, 2013.
Fotos: Pexels
*Arthur Prado-Netto,Psicológo CRP 03/7485, PhD em psicologia pela Université de Paris, Sorbonne, professor da Universidade do Estado da Bahia, Guanambi e Bom Jesus da Lapa.