Megalomania
A megalomania corresponde à superestimação das próprias habilidades, o que leva ao desejo de se impor e ao desinteresse pelos outros. Uma pessoa megalomaníaca pode ter um comportamento exagerado e egocêntrico, caracterizado pelo poder e amor-próprio. Distinguem-se dois tipos: a megalomania “comum”, que é um traço de caráter mais ou menos adaptável, e a megalomania “delirante”, que muitas vezes é o sinal de uma transtorno mental completamente desconectado da realidade.
O empresário brasileiro Eike Batista exprime que, “Na medida certa, um pouco de megalomania ou ousadia é recomendável. Não há empreendedor bem-sucedido que não tenha provado uma pequena dose.” É verdade que, sem ousadia e coragem para correr risco, torna-se difícil ser empreendedor, mas ultimamente, as redes sociais e as fórmulas mágicas do sucesso provocam nos adolescentes e adultos o que a psicologia chama de “mania de grandeza”.
A Megalomania, em seu significado mais comum, expressa-se por uma ambição que tudo consome em um pano de fundo de desprezo pela realidade. O megalomaníaco sempre se vê mais bonito, mais inteligente, mais poderoso do que é, ele não apenas fantasia, ele realmente acredita em sua superioridade. A opinião dos outros, o veredicto do espelho, os resultados que obtém não afetam sua convicção.
Os psicólogos sabem muito bem que é impossível ao ser humano se perceber objetivamente: ou tendemos a nos desvalorizar, ou embelezamos o quadro. No entanto, muitos estudos em psicologia social comprovam que ser um pouco supervalorizado, estar satisfeito consigo mesmo, é mais produtivo e te deixa mais feliz. Os indivíduos mais lúcidos sobre si mesmos são muitas vezes deprimidos.
Normal ou Patológico?
Então, onde traçamos a linha entre o normal e o patológico na megalomania? O psicoterapeuta procura um ponto de corte no momento em que há uma clara desconexão com a realidade. Especialmente quando a pessoa, em seu desejo de alcançar seu objetivo, não hesita em sacrificar vidas (incluindo a sua), como fizeram alguns grandes megalomaníacos cujos nomes a história conservou: Genghis Khan, Stalin, Hitler. Observe-se também que, em larga escala, o delírio megalomaníaco leva à paranoia, o que faz você ver inimigos, conspirações por toda parte.
Essa atitude mental resulta do fascínio que todos nós, na infância, experimentamos quando descobrimos nossa imagem no espelho. Por volta dos 5-6 anos, a criança em princípio renuncia às suas fantasias de todo poderoso, quando escuta: “Não, é proibido, é perigoso, é errado, você não pode”. Essas palavras introduzem a operação que os psicanalistas chamam de “castração simbólica”, e pela qual a criança consegue entender que seus desejos não são todos realizáveis, que há limites. É também uma oportunidade de aprender a diferença entre desamparo (sou muito fraco, estou fazendo errado) e impossível (é inatingível para todos), o que ajuda muito a suportar fracassos e frustrações. A criança então se alinha, queira ou não, do lado da razão, e apenas traços de megalomania permanecerão em sua psique. Muitas vezes esse processo sofre falhas no caso de pais que não colocam limites ou superprotegem o filho, alimentando suas fantasias megalomaníacas. Exemplo ilustre no Brasil é do cantor Cazuza (1958-1990), um dos melhores compositores dos anos 1980, ele se assumia um exagerado, filho único, pai ausente e mãe superprotetora.
No entanto, a megalomania também pode, inversamente, ser consequência de um trauma precoce (abuso, abandono) que levou a uma perda da orientação que nos permite saber quem somos. Trata-se, então, de compensar a ferida, a sensação de não ser nada, por cenários fantasiados onde o “eu” pode tudo.
O megalomaníaco em ascensão é percebido muito rapidamente: na escola, depois no ensino médio, ele fala mais do que os outros, se impõe. Ele não tolera nenhum aborrecimento, não suporta que os outros tenham mais do que ele. E se permite esmagar o próximo sem nenhum escrúpulo. Quando o Facebook, Instagram, Youtube e outras redes sociais permitem que qualquer usuário da Internet dê aulas de psicologia, quando todos estão em condições de se considerarem especialistas em qualquer campo, é uma aposta segura que a megalomania continuará sendo a tendência crescente por muito tempo, especialmente porque as telas nos ajudam a confundir a vida real e o mundo virtual. Sem dúvida, é urgente redescobrir coletivamente o poder apaziguador dos limites!
O tratamento é baseado no tipo subjacente identificado; no caso de esquizofrenia e transtorno bipolar, o paciente é tratado com fármaco regulador de humor e psicoterapias. Na megalomania comum, é sempre a família que reclama e acompanha no tratamento psicológico. A psicoterapia tem como alvo a megalomania comum se o paciente se queixa dela, o que raramente acontece.
Referências:
Behary, Wendy T. Face aux narcissiques: Mieux les comprendre pour mieux les désarmer,2010
Cardin-Changizi P. Mégalomanie : définition, symptômes, est-ce une maladie ? 2019
Fond, G. Je fais de ma vie un grand projet: Je décide d’agir pour changer durablement,2018
Taubes, I. Mégalomanie, la tendance qui monte, 2021
Fotos: Pixabay